As novelas sempre
retratam situações do cotidiano, e, muitas vezes, os autores colocam enredos
que despertam em todos os mais variados sentimentos. Sem dúvida, o desejo de
vingança é um dos sentimentos que mais afloram, diante de injustiças e
atrocidades praticadas pelos vilões.
Segundo o biólogo
Keith Jensen, do Instituo de Antropologia Evolutiva de Leipzi, Alemanha, a luta
entre a reconciliação e o desejo de vingança é tão antiga quanto a civilização,
e dura até os dias atuais.
Para especialistas, a
vingança ativa as mesmas áreas no cérebro que são ativadas em atividades
prazeirosas, que são chamadas de centros de recompensa.
Muitas vezes, a
vingança ganha o nome de justiça, e as pessoas, dizendo estarem fazendo
justiça, na verdade, estão alimentando o sentimento de vingança, e não raro,
tornam-se capazes de atos até piores dos que motivaram o sentimento de
vingança.
Na vingança, está
embutido o desejo de fazer o outro sofrer, e em geral, segundo o psiquiatra
Luiz Cuschnir, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São
Paulo, contém elementos de raiva, ódio e vergonha.
Para o psiquiatra
Isaac Efraim, também de São Paulo, a mágoa é o maior combustível da vingança, e
movida por esses sentimentos, a pessoa pode chegar ao estado de depressão e
desenvolver verdadeira obsessão pela vingança.
Obsessão como temos
acompanhado na novela global Avenida Brasil, onde a personagem transformou o
seu objetivo de vida apenas em se vingar dos males sofridos na infância, para
isso sendo capaz de passar por cima de todos os seus valores. Como também
acompanhamos recentemente em outra novela: Insensato Coração, onde a
personagem, machucada, e até indo para a prisão, por conta de atos criminosos
do psicopata Léo, transforma-se de antes, uma pessoa honesta, trabalhadora e de
bons sentimentos, numa pessoa capaz de atos semelhantes aos de seu algoz,
chegando até a planejar homicídios. Tudo no intuito de conseguir a sua
vingança.
Segundo Ricardo
Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade
Federal de São Paulo, o sentimento de vingança é um sentimento emocional que
pode gerar disfunções emocionais e até disfunções físicas.
Do ponto de vista
emocional, o desejo de vingança pode provocar altos níveis de ansiedade,
depressão, pensamentos obsessivos, compulsão e estresse. Do ponto de vista
fisiológico, pode causar disfunções relacionadas à liberação de hormônios do
estresse, que levam à problemas cardiovasculares e queda no sistema imunológico
do organismo.
Segundo o psicólogo
americano, Michael McCullough, foi através da vontade de perdoar que a
humanidade conseguiu interromper longas espirais de violência provocadas pela
vingança, e, como o ser humano está propenso a inevitavelmente cometer erros
durante sua vida, nada mais normal que ter um pouco de flexibilidade para lidar
com esses erros. Para ele, nós não poderíamos ter evoluído como espécie sem a
capacidade de suportar alguns prejuízos de vez em quando.
Para especialistas, a
melhor maneira de evitar problemas de saúde provocados pelo sentimento de
vingança é incorporar o prejuízo e tocar em frente. E, a melhor maneira de
lidar com esse sentimento é não alimentando a memória da dor.
Além do que, pela
sensação de prazer sentido no ato da vingança, o ato de vingar-se pode
tornar-se um vício. Esse é o grande perigo da vingança, a vítima tornar-se
igual ao criminoso, segundo Marjorie Vicente, psicóloga paulista.
Os principais traços
de personalidade de quem sempre procura a vingança diante dos males sofridos
são: a baixa capacidade de tolerar frustrações; reação de raiva e
inconformidade quando não atendido seus desejos; sentimentos de inferioridade;
rancor e dificuldade em perdoar.
Alimentando desejos
de vingança, o vingador distancia-se da sua própria índole, tornando-se igual,
ou até pior, do que o que lhe cometeu algum mal. E para que os problemas,
emocionais e fisiológicos, não se agravem, pelo acúmulo de sentimentos de
vingança, é necessário exercitar o perdão e a compaixão.
As pessoas mais
tolerantes, maduras e espiritualizadas conseguem lidar melhor com os
sentimentos e afastar o desejo de vingança de forma mais fácil. Mas, Se não
conseguir livra-se do sentimento de vingança e do rancor sozinho, torna-se
necessário buscar ajuda profissional.
Algumas atitudes
podem ser exercitadas para manter distante os sentimentos de rancor e o desejo
de vingança: investir no autoconhecimento, aprendendo a controlar as emoções;
trabalhar a autoestima, procurando gostar mais de sí próprio; não alimentar
rancores; em vez de apedrejar, questionar as atitudes do outro.
E, acima de tudo,
procurar está sempre de bem consigo mesmo.
Escute esse programa, que foi ao ar no dia 26.07.2012
Baixe o áudio desse programa, que foi ao ar no dia 12.07.2012.
Mais sobre o tema
Participe do programa enviado email para momentodeanalise@bol.com.br
Conto com sua participação.
Gilson Tavares
0 comentários:
Postar um comentário